Bruna Da Matta Sarubo

Translated by Bruna Da Matta Sarubo

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   ENGPOR

   Legal Abortion

    

   The Pope got pregnant!

   Whether it was divine punishment

   I don’t know.

   but I know that

    

   The Pope got pregnant.

    

   If it was an accident,

   It’s ok,

   but he could’ve used a condom, right?

   Even pills are available now.

   You got to be more careful.

   If pregnant,

    

   The Pope got pregnant.

   And his life is in danger.

   To abort the – potential – baby?

   - uh uh –

   not allowed.

    

   But the Pope’s life is at stake,

   a matter of public health.

   - uh uh –

   Not allowed.

   What about the health of the – who knows? – baby?

    

   Check the books carefully,

   and you’ll see,

   it is a life when the life is.

   First, the father’s health

   then, the Pope’s choice,

   and so, yes, we can allow the cells to become life.

    

   The Pope got pregnant.

   It was an act of violence, he said,

   he didn’t want to, he was forced.

   - uh uh –

   Not allowed.

   Who will ever believe it?

   try and convince them.

   Wearing a cassock, Mr. Pope?

   If he was against it, it wasn’t his will.

   He made it easy.

   He should’ve known better than to wear loose clothes.

   Who told you to wear loose clothes?

    

   The Pope got pregnant

   and is not allowed to choose

   whether to risk having the potential child

   or, even,

   to live.

    

   What about one’s autonomy?

   The church cannot lose its rights over itself –

   is the future life more important?

   Well look, said the Pope, I’m alive.

    

   What does Science say?

   Maybe it’s time to change our minds

   following the recent developments.

   Check the books and you’ll see:

   it is only a life when the life is.

    

   The Pope got pregnant

   and wants to take action – holily

   - whether it was divine punishment, accident or violence, don’t ask me -.

    

   The pope got pregnant.

   The morning after, an announcement:

   abortion is indeed allowed, esteemed fellows,

   provided that the one who has the right

   over their own body

   is considered human, free and respected.

   Translated by Bruna Da Matta Sarubo

   Aborto Legal

    

    

   O Papa engravidou!

   Se foi castigo divino,

   não sei,

   sei que

    

    

   O Papa engravidou.

    

    

   Se foi acidente,

   tudo bem,

   mas podia ter usado camisinha, não?

   Hoje em dia, até pílula tem.

   Tem que ser mais responsável.

   Se engravidou,

    

    

   O Papa engravidou.

   E está correndo risco de vida.

   Tirar o – possível – bebê?

   - hã hã –

   pode não.

    

    

   Mas a vida do Papa que está em jogo,

   questão de saúde pública.

   - hã hã –

   Pode não.

   E a saúde do – quem sabe? – bebê?

    

    

   Consulta os livros direitinho,

   que você vai ver,

   é vida quando a vida é.

   Primeiro, a saúde do pai

   depois, a escolha do Papa,

   aí, sim, deixamos que as células virem vida.

    

    

   O Papa engravidou.

   Foi violência, ele disse,

   não queria, obrigaram.

   - hã hã –

   Pode não.

   Quem é que vai acreditar,

   quero ver ele convencer.

   De batina, seu Papa?

   Se foi contra, não foi a sua vontade.

   Facilitou o ocorrido.

   Quem manda usar roupa solta?

    

    

   O Papa engravidou

   e foi proibido de escolher

   se arriscava ter o possível filho

   ou, mesmo,

   viver.

    

    

   E a autonomia?

   A igreja não pode perder seus direito sobre si,

   a futura vida é mais importante?

   Veja bem, disse o Papa, eu estou vivo.

    

    

   O que diz a ciência?

   Talvez seja a hora de mudar nossa ideia

   com o avanço dos estudos.

   Consulta o livro que você vai ver:

   só é vida quando a vida é.

    

    

   O Papa engravidou

   e quis tomar a santa providência

   - se foi castigo divino, acidente ou violência, eu que não sei –.

    

    

   O papa engravidou.

   No dia seguinte, foi anunciado:

   aborto pode, sim, honrados,

   desde que quem tenha o direito

   sobre o próprio corpo

   seja considerado gente, livre e respeitado.

2. 2 / 2

   

   

   ENGPOR

   I hate, I hate your cigarettes. 

   I hate the way you smoke, 

   I hate your escapes, 

   I even hate when you ask me to smoke with you, 

   this ridiculous way of trying to bring me closer to your ritual, 

   of this habit so yours, 

   so annoyingly yours, 

    

   I hate, I hate your cigarettes, 

   I hate them all, 

   I hate each accusation they make in your mouth, 

   I hate how your fingers hold the cigarettes,  

   I hate the fire and the fascination on your eyes, 

   I hate the smell on your stuff, 

   I hate that you miss them, 

   I hate your hands shaking far from them, 

   I hate your jealousy of the unknown people smoking, 

   I hate when you runout to look for them, 

   I hate those five minutes, your excuses, 

   I hate you finding time for them, 

   I hate them always being around, 

   on your mind, in your chest, in each cell of your day, 

    

   I hate your loneliness with them, your intimacy, 

   I hate, I hate your silence and your devotion, these hours dedicated to them, 

   I hate their space within your stuff, 

   within your days and the way they make you meet people, 

   I even hate this thing I should like: 

   I hate your pudency in not smoking in front of your family, 

   I even hate this decency of yours, 

   I hate because of this unbearable pleasure face of yours when you hide to smoke, 

   it seems you do it on purpose, 

   I hate that face, 

    

   I hate that you prove life in them, 

   I hate that you want to die for them, 

   I hate how you suck them when you’re distracted, 

   I hate your need, your urgency and also your conviction that you want them for desire,

   I hate that you deny your obvious vice, that you deny your habit, 

   that you don’t even notice your habit, 

    

   I hate that you only realize that you started being with them a long ago 

   when you remember old stories 

   – I hate that you have so many old stories with it – 

   I hate that you don’t leave them for anything, 

   I hate that they are your peace, 

   I hate how you are confidants to each other, 

   I hate your friendship with them, 

   and you boasting them at parties, bars and streets, 

   as if they were a triumph of your own, 

   as if they belonged only to you, 

   I hate, I hate your loyalty, 

   I hate them all, all your cigarettes,

    I hate how I envy when I think I’ll never be swallowed with such violence by you, 

   I hate,

   I hate not being your cigarettes.

   Translated by Bruna Da Matta Sarubo

   Odeio, odeio seus cigarros. 

   Odeio o jeito como você fuma, 

   odeio sua fuga, 

   odeio até quando você pede para eu fumar com você, 

   essa tentativa ridícula de me aproximar do seu ritual, 

   disso que é tão seu, 

   tão irritantemente seu, 

    

   odeio, odeio seus cigarros, 

   todos eles, 

   odeio cada denúncia que eles fazem na sua boca, 

   odeio como seus dedos seguram os cigarros, 

   odeio o fogo e o fascínio dos seus olhos, 

   odeio o cheiro nas suas coisas, 

   odeio a sua saudade, 

   odeio suas mãos tremendo longe deles, 

   odeio seu ciúme dos desconhecidos fumando, 

   odeio você sair a hora que for para encontrá–los, 

   odeio seus cinco minutinhos, suas desculpas, 

   odeio você arrumar tempo para eles, 

   odeio eles estarem sempre por perto, 

   na sua mente, no seu peito, em cada célula do seu dia, 

    

   odeio a sua solidão com eles, a sua intimidade, 

   eu odeio, odeio o seu silêncio e devoção, essas horas dedicadas a eles, 

   odeio o espaço deles nas suas coisas, 

   nos seus dias e o jeito como eles fazem você conhecer pessoas, 

   odeio até isso que eu podia gostar: 
   odeio o seu pudor em não se apresentar fumando à família, 

   odeio até essa sua decência, 

   odeio por causa dessa cara de prazer insuportável com que você fuma escondido, 

   parece que faz de propósito, 

   que raiva da sua cara, 

    

   odeio você provar a vida neles, 

   odeio você querer morrer por eles, 

   odeio você chupá–los distraído, 

   odeio a sua necessidade, a urgência e também a sua convicção de que os quer por desejo, 

   odeio você negar o vício óbvio, negar o costume, 

   nem reparar no costume, 

    

   odeio você só perceber que está há tempos com eles quando lembra histórias antigas 

   — odeio vocês terem tantas histórias antigas —  

   odeio você não os largar por nada, 

   odeio eles serem sua paz, 

   odeio como vocês são confidentes, 

   odeio a amizade de vocês 

   e você os exibindo em festas, bares e ruas, 

   como se fossem algum triunfo só seu, 

   como se lhe pertencessem somente, 

   eu odeio, odeio a sua fidelidade, 

   odeio todos, todos os seus cigarros, 

   odeio a inveja que sinto quando penso que nunca serei tragada com tanta violência por você, 

   odeio, 
   odeio não ser os seus cigarros.

3. 3 / 3

   

   

   ENGPOR

   On is not born a woman

   The worms inside my head

   In the transit of absurd

   Drill my skull.

    

   They get fat. They grow up.

   Starving. Violent.

    

   The worms inside my head

   In the transit of absurd

   Turn me into

   Medusa.

   Translated by Bruna Da Matta Sarubo

   Ninguém nasce mulher

   As minhocas da minha cabeça

   no trânsito do absurdo

   perfuram meu crânio.

    

   Engordam. Crescem.

   Famintas. Violentas.

    

   As minhocas da minha cabeça

   no trânsito do absurdo

   me tornam 

   Medusa.

4. 4 / 4

   

   

   ENGPOR

   What it means to be a woman?
   A performance?
   A tone of voice?
   A way of crossing your legs?
   A geometric figure pussy waxing?
   
   To be a woman is waxing, shaving the hair off,
   what is beyond that...?
   
   The rape, the feminicide, the uterus

   What it means to be a woman?

    

   The dungeon, the Bluebeard, the marriage,
   What it means to be a woman?
    

   The salary, the harassment, the interruption,

   Do they affect women?

   
   The affection, the attention, the dishes, the house, the broom, the dishcloth and the kitchen

   Are they the woman?

   
   The faults, the excuses, the numerous please excuse me thank you I’m sorry

   The education to be inferior
   hammering the beats of my steps,
   the head down on the streets,
   some hard dicks on a crossroad,
   the silence,

   they not not not hearing the no,
   the madness,

   is this a woman?
   
   Is my girlfriend a woman?

   Me, having a girlfriend, am I a woman?

   What is it, woman?

   The whole.
   
   One who wears a bra and doesn’t wear a mustache is a woman?

   But what about me,
   that get annoyed with that thing squeezing my borrowed ribs?
   that get pissed off whit the hot wax shutting my mouth?
   
   When I’m a slut,

   Am I a woman?

   To whom?

   
   What about my mother?!

   Is she a woman?

   What about me, who is not a mother?
   
   Who is more of a woman?

   Europe, Syria, Brazil or Mozambique?
   Is there such a thing as “more of a woman”?
   Or is it an absolute term, is or isn’t?
   Is it an adjective?

   Maybe a noun

   a subject!

   a pronoun

   a possessive noun

   infinitive

   finitive

   defined

   definitive

   indefinite

   indecipherable

   a sphinx

   a mystery

   hollow,

   no inside

   no expression

   no voice

   or no translator, of this foreign country weird language
   - who is native? -
   or with no other person who listens and sees and considers

   who is

   not to be

   being

    

   Considerations on the word “woman”:

   not everyone is

   is not universal

   is not humankind

   is just “woman”

   is not the standard

   is deviation.

   
   Maybe if a man

   Would get dressed as a woman

   (high heels, lipsticks, dress, boobs,

   is this a woman?
   the feminine article, is this a woman?
   what about feminine, what is it, everyone?),
   maybe a man

   wearing a woman’s mask

   could explain to me,
   as they always do

   in so many details

   how does a woman suffer

   how does a woman live

   how does a woman think

   what does a woman feel

   and how how how

   a woman struggles!

   what what what

   should a woman do

   to be a woman!

   
   And I may,

   finally,

   be a cheetah.

   Translated by Bruna Da Matta Sarubo

   O que é ser mulher?
   Uma performance?
   Um tom de voz?
   Um jeito de cruzar as pernas?
   Uma figura geométrica depilando a boceta?
   
   Ser mulher é depilar-se, arrancar-se os pelos,
   o que existe além...?
   
   O estupro, o feminicídio, o útero,
   o que é ser mulher?
   
   A masmorra, o barba azul, o casamento,
   o que é ser mulher?
   
   O salário, o assédio, a interrupção,
   afetam a mulher?
   
   O afeto, o cuidado, a louça, a casa, vassoura, pano e cozinha
   são a mulher?
   
   As culpas, as desculpas, os excessivos por favor com licença obrigada perdão,
   a educação para a inferioridade
   martelando os compassos dos meus passos,
   a cabeça baixa nas ruas,
   uns pintos duros no cruzamento,
   o silêncio,
   o não não não ouvirem o não,
   a loucura,
   é isso a mulher?
   
   Minha namorada é mulher?
   Eu, por ter namorada, sou mulher?
   O que é, mulher?
   O buraco.
   
   Se usa sutiã e não tem bigode é mulher?
   Mas e eu?
   que fico irritada com o bagulho me comprimindo as costelas emprestadas?
   que fico puta com a cera quente tapando a boca?
   
   Quando sou puta,
   sou mulher?
   Para quem?
   
   E minha mãe?!
   É mulher?
   E eu que não sou mãe?
   
   Quem é mais mulher?
   Europa, Síria, Brasil ou Moçambique?
   Existe “mais mulher”?
   Ou é um termo absoluto, é ou não é?
   É adjetivo?
   Quem sabe um substantivo
   um sujeito!
   um pronome
   possessivo
   infinitivo
   finitivo
   definido
   definitivo
   indefinido
   indecifrável
   uma esfinge
   um mistério
   oco, 
   sem dentro
   sem expressão
   sem voz
   ou sem tradutor, desta língua esquisita deste país estrangeiro
   - quem é o nativo? -
   ou sem o outro que escute e veja e considere
   que é
   sem ser
   sendo
   
   Considerações sobre a palavra “mulher”:
   não são todos
   não é universal
   não é a humanidade
   é só “mulher”
   não é norma
   é desvio.
   
   Talvez se um homem
   se vestisse de mulher
   (salto, batom, vestido, peito,
   é isso a mulher?
   o artigo feminino, é isso a mulher?
   E o feminino, o que é, gente?),
   talvez um homem
   de máscara mulher
   poderia me explicar,
   como sempre me explicam
   tudo tão detalhado
   como sofre uma mulher
   o que vive uma mulher
   como pensa uma mulher
   o que sente uma mulher
   e como como como
   luta uma mulher!
   o que o que o que
   a mulher deve fazer
   para ser uma mulher!
   
   E eu possa,
   finalmente,
   ser onça.

5. 5 / 5

   

   

   ENGPOR

   Message

    

   Congratulations! You are a winner egg:

   you hosted something that arrived

   and turned into you.

    

   You knew how to close yourself off when needed.

   You were huge, strong, you waited and acted.

    

   You were the one who withstanded

   Among all others, over time,

   And that was ready on the right moment:

   Your space was bestowed and invaded.

    

   Congratulations!

   You despised the weak ones

   And hosted the strong one.

    

   You multiplied and created in yourself,

   Existing as something else.

    

   You had the strength to gather, to destroy and to create.

   As God,

   as the Mystery of the Universe,

   a little box with the power.

    

   You are a winner egg

   begotten by another winner egg

   begotten 

   by millions of winner eggs.

    

   Some millennia of winner eggs,

   Worthy of creating, destroying and gathering.

    

   I have eggs and I hope you have it as well.

   Those who has it can choose if wants or not

   to give life to other winner eggs.

   
   (They are so cute when they leave me without winning,

   every month,

   so tired and red,

   that I see them as proof of victory.)

   (I’m still not sure if I want one of them winning for life

   because I’m still not sure I believe I should I want

   what we here call race.)

    

   You are a winner egg.

   So am I.

   But here, we’re even.

    

   Also, here, the winner is the one who knows:

   to wait,

   to choose,

   to receive

   and to create.

    

   Not

   the

   one

   who

   swims

   faster.

   Translated by Bruna Da Matta Sarubo

   Mensagem

    

   Parabéns! Você é um óvulo vencedor:

   acolheu aquilo que chegou

   e transformou-se em você.

    

   Você soube se fechar quando foi preciso.

   Era enorme, forte, esperou e agiu.

    

   Você foi aquele que resistiu,

   entre todos os outros, ao logo do Tempo, 

   o que estava pronto na hora certa:

   seu espaço foi contemplado e invadido.

    

   Parabéns!

   Você desprezou os fracos

   e acolheu o forte.

    

   Você multiplicou e gerou em si,

   existindo como outra coisa.

    

   Você tinha a força de juntar, destruir e criar.

   Como Deus, 

   como o mistério do Universo,

   caixinha com o poder.

    

   Você é um óvulo vencedor

   que foi gerado por outro óvulo vencedor

   que foi gerada

   por milhares de óvulos vencedoras. 

    

   Milênios de óvulos vencedoras,

   dignas de criar, destruir e juntar.

    

   Eu tenho óvulos e torço para que você tenha também.

   Quem tem pode escolher se quer ou não 

   botar no mundo mais óvulos vencedores.

   
   (Eles são tão bonitinhos quando saem de mim sem vencer, 

   todo mês,

   tão cansados e vermelhos, 

   que os acho uma prova da vitória.)

   (Ainda não sei se quero que algum deles vença pra vida
   porque ainda não sei se acredito se devo se desejo
   nisto que a gente chama, aqui, corrida.)

    

   Você é um óvulo vencedor.

   Eu também.

   Mas, aqui, nós somos empatados.

    

   Aqui, também, ganha quem souber: 

   esperar,

   escolher, 

   receber 

   e criar.

    

   Não 

   quem 

   nada

   mais 

   rápido.

6. 6 / 6

   

   

   ENGPOR

   I won’t leave a trace of this disgrace,

   I promise,

   I’ll be like an athlete: I’ll jump two meters thinking only of my breath,

   I swear to you,

   You won’t even notice how I suffered.

   I’ll cross the Mediterranean Sea,

   swimming all week long

   and I’ll be back by Sunday noon

   to wake up by your side.

   no fatigue nostalgia,

   only my body in horizontal,

   new as a paçoca on June 1st.

   You won’t even notice the bereavements,

   you won’t’ even notice how many times I buried myself in the last few months.

   The pandemonium I appeased inside my stomach, you won’t even listen.

   You’ll think I never skinned my knees.

   I promise to give you the joy

   of one who never saw the devil

   at the mirror’s eyes.

   You will think you know me,

   that you’ve known me your whole life,

   you’ll be sure there’s nothing else to know.

   I’ll make the last years’ density so thin and soft

   that it will sound transparent.

   I’ll make it sweet as a caramel

   the bitter taste

   of my mouth’s blood.

   I promise you,

   for you to stay in my life,

   I’ll hide my wounds away

   with cyanide.

   Translated by Bruna Da Matta Sarubo

   Não vou deixar vestígios desta desgraça,
   prometo,
   serei como atleta: saltarei dois metros pensando apenas na minha respiração,
   te juro,
   você nem vai notar que sofri.

    

   Atravessarei o mar mediterrâneo,
   nadando a semana inteira
   e voltarei ao meio dia do domingo
   para acordar do seu lado.

   
   Nenhuma nostalgia da fadiga,
   só meu corpo na horizontal,
   novo como paçoca no primeiro de junho.

    

   Você nem vai notar os lutos,
   não vai nem perceber quantas vezes me enterrei nos últimos meses.
   Os pandemônios que apaziguei no meu estômago, você não vai nem ouvir.
   Vai achar até que nunca nem ralei os joelhos.

    

   Prometo te dar a alegria
   de quem nunca viu o demônio
   nos olhos do espelho.

    

   Você vai achar que me conhece,
   que me conheceu a vida inteira,
   certeza de que nem tem o que conhecer.

    

   Farei a densidade dos últimos anos tão fina e leve,
   que soará transparente.

    

   Farei doce como caramelo
   todo o amargo do
   sangue na minha boca.

    

   Te prometo,
   pra você ficar na minha vida,
   vou esconder minhas feridas
   com cianureto.